Abstract
O artigo problematiza o desenvolvimento das competências no trabalho em saúde, discutindo cenários do trabalho, diretrizes da formação e o escopo dos saberes científicos sob o recorte da profissionalização pela educação superior, isto é, sob o contorno das profissões científicas regulamentadas na saúde. Diante disto, o texto aporta uma conversa sobre educação, áreas do conhecimento e profissões no caso da saúde, resultante de uma trajetória de pesquisas abrangidas pela configuração contemporânea da Educação e Ensino da Saúde, presente no diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil. Para o desenvolvimento de competências, as políticas públicas de educação na saúde reconhecem a insuficiência dos treinamentos 1 Sanitarista, mestre em educação, doutor em psicologia clínica, pós-doutor em antropologia médica. Professor Associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisador do CNPq na área de Educação e Ensino da Saúde, coordenador do EducaSaúde – Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul. formais e teóricos, propondo-se cada vez mais estratégias de compartilhamento de saberes e experiências ou as rodas de conversa como instrumentos pedagógicos. Para abranger o escopo da saúde, entretanto, é frequente a afirmativa de um rol de profissões e um discurso formativo que reduz todos os saberes a um equivalente geral da clínica. Numa metodologia ensaística, buscou-se explicitar as normatividades, confusões e desafios que ocorrem quando se trata de identificar, na saúde, seu corpo científico, seu corpo profissional de
trabalhadores, a profissionalização universitária e a participação profissional-representativa
junto às instâncias de controle social. Tomando o foco da Educação e Ensino da Saúde, o artigo traz à cena estudantes da área da saúde necessitando construir conceitualmente o objeto saúde, reconhecer sua pluralidade e a distinção de sentidos em disputa. Assim, a compreensão acerca do desenvolvimento de competências para o trabalho na saúde é mobilizada pela invenção das experiências vivenciais no interior do SUS destinadas aos estudantes de graduação dos vários cursos de bacharelado na área ou setor da saúde. Como Trabalho em Saúde Tempus - Actas de Saúde Coletiva Revista Tempus Actas de Saúde Coletiva 254 resultado, é apresentada a compreensão de que uma inteligência (mais que um saber) foi o eixo desafiado pelas experiências de vivência, concluindo-se que fica-se inteligente porque se aprende, aprende-se porque houve
a oportunidade do aprendizado. Do ponto de vista das competências, é a oportunidade de desenvolvimento do coletivo de trabalho, o que pressupõe colocar em movimento o
saber formal, mas, acima de tudo, os saberes informais ou de si dos atores sociais em
situação de implicação. Essa conclusão aponta para a afirmação da presença e da implicação de si, colocando produção de movimento nas fronteiras individuais com que se pensa e vive o trabalho, não sendo mais possível a aceitação tácita de um normativo desde fora para fixar um dentro. O fora é a disruptura, a desestabilização, o desconforto intelectual e o dentro um contorno vivo de práticas inventivas do trabalho e dos próprios trabalhadores.