COVID-19 no Brasil: interferência política e fragmentação institucional na gestão da crise sanitária

Resumo

Este artigo analisa a gestão política e institucional da pandemia de COVID-19 no Brasil, com foco na resposta inicial, no papel da liderança federal e nas consequências de uma governança fragmentada. Explora como as estruturas de saúde pública do país, inicialmente mobilizadas por meio da vigilância e de protocolos de emergência, foram gradualmente enfraquecidas pela interferência política, especialmente por parte do Poder Executivo Federal. O estudo destaca o uso dos Boletins Epidemiológicos não apenas como instrumentos técnicos, mas também como ferramentas de retórica política, reformulados para se alinharem aos interesses do governo. As frequentes mudanças na liderança do Ministério da Saúde e as narrativas públicas conflitantes enfraqueceram a ação coordenada, gerando confusão entre autoridades locais e a população. Além disso, atores institucionais e organizações científicas responderam de forma polarizada, refletindo as divisões sociais e políticas mais amplas. A análise evidencia como a gestão da pandemia no Brasil se tornou um palco de disputas ideológicas, comprometendo estratégias baseadas em evidências e a integridade da comunicação em saúde pública. Por fim, o artigo discute o cenário institucional pós-pandemia, enfatizando a necessidade de uma liderança transparente, da restauração da credibilidade científica e do fortalecimento do Sistema Único de Saúde como eixo central da preparação para futuras emergências.