Resumo
Este artigo apresenta os resultados da pesquisa sobre as percepções e práticas de autoatenção dos índios Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul no que se refere aos parentes de indivíduos engajados em um processo clínico e diagnosticados como sofrendo de psicopatologia crônica. As famílias reconhecem sua responsabilidade moral de cuidar de seus parentes, porém fatores estruturais exercem uma influência forte sobre o tipo de cuidado que elas podem oferecer. Enquanto algumas delas conseguem acompanhar e gerenciar os cuidados necessários para manter a estabilidade do estado do doente, outros enfrentam dificuldades para operacionalizar sua responsabilidade de cuidar. Observamos que as práticas de autoatenção oferecidas pelas famílias são relacionadas com diversos fatores, tais como coesão familiar, situação financeira, gênero do doente e julgamento moral sobre sua conduta. Estas fatores são consequências dos processos históricos e econômicos que impactam no sistema de organização social tradicional baseado em reciprocidade. As dificuldades das famílias nem sempre são reconhecidas pelos os profissionais de saúde, no anseio de que a família acolha e cuide do seu doente.