Resumo
Este artigo fundamenta-se em uma etnografia sobre práticas de saúde na aldeia Kwatá, dos Índios Munduruku, localizados no Rio Canumã, no município de Borba, Amazonas, Brasil. Essas práticas de saúde extrapolam
o circuito biomédico de atenção e abrangem redes de atores sociais que podem ser descritos como participantes de um “campo religioso”
de atenção às enfermidades. Verificou-se que o papel da autoatenção nos processos de saúde e doença é fundamental para a constituição desse
campo, no qual se destacam forças convergentes e antagônicas do xamanismo, do cristianismo, da umbanda, do espiritismo kardecista e da
biomedicina. Os dados levantados apontam que essas redes de relações sociais projetam-se para além dos limites da terra indígena, para
espaços rurais e urbanos, e frequentemente estabelecem diálogos interétnicos. Os itinerários terapêuticos acompanhados indicam
a heterogeneidade das práticas de saúde desenvolvidas pelos Munduruku com destaque à autoatenção, à atuação política e à inserção
econômica no cenário local e regional.